segunda-feira, outubro 17, 2005

Brincando com fogo

Seria muito bom se as autoridades políticas do Brasil, responsáveis pela administração pública, começassem a prestar um pouco mais de atenção para o aquecimento do termômetro social do País. É verdade que, como gostam de afirmar os políticos, o povo brasileiro é de paz. Porém, até quando durará a paciência do brasileiro? Até quando este povo trabalhador e honesto conseguirá conviver com tantos desmandos políticos?
Não faz muito tempo que a população de uma pequena cidade do sul de Minas Gerais, revoltada com as falcatruas do presidente da Câmara Municipal, acabou destruindo a casa daquele que deveria ter dado exemplo de honestidade, pois, afinal de contas, fora eleito e era pago pelo povo não para roubar, e sim, para zelar pelo bem da cidade.
Há 15 dias, o Brasil inteiro ficou estarrecido com as imagens da revolta do povo de Goianésia, uma pequena cidade do sul do Pará. Lá, o desaparecimento de uma menina, possivelmente, também vítima de violência sexual, foi a gota d´água que faltava para transbordar o copo da paciência dos moradores. Revoltados com a falta de segurança e, com certeza, também com a somatória de todos os problemas sociais que agridem o povo brasileiro, homens e mulheres, velhos e jovens partiram para a destruição. Não sobrou nenhum prédio público, como Delegacia de Polícia, Fórum, Prefeitura, Câmara Municipal e também a casa do prefeito. Tudo foi destruído e queimado. E as imagens violentas de um povo, revoltado com a falta de justiça, foram exibidas no mundo inteiro, escancarando a realidade brasileira.
Diante disso, a gente pergunta: seria o povo do Sul de Minas ou do Sul do Pará, diferente dos demais brasileiros que convivem diariamente com problemas semelhantes e até piores? Antes, que alguém me acuse de estar fazendo apologia da violência, adianto que sou radicalmente contra qualquer tipo de revolução violenta. Por filosofia de vida, acredito apenas em um tipo de revolução: é aquela que vem pelo saber, pela educação, pelo trabalho e pela justiça social.
Infelizmente, tudo isto é, justamente, o contrário do que estamos vivendo hoje no Brasil. As estatísticas dos índices de desenvolvimento humano mostram que estamos na rabeira do mundo. E, enquanto isso, o Congresso Nacional, que existe apenas para aprovar Medidas Provisórias do Executivo, agora se transformou numa mera Delegacia de Polícia para investigar crimes de corrupção cometidos por políticos e empresários.
Por outro lado, o povo continua em sua saga sofredora, trabalhando e pagando uma das mais altas cargas tributárias do planeta, sem ter a contrapartida do poder público. Além disso, tendo que conviver ainda como refém da criminalidade. Pois, como podemos esquecer de fatos tão trágicos, como morte daquele garoto pobre, que foi seqüestrado por engano no interior de São Paulo? Sem dó, os bandidos amarraram as mãos do menino, deram um tiro em sua nuca e o jogaram num terreno baldio. Como esquecer também daquela chacina contra uma família japonesa de São Paulo? É inacreditável e indescritível o depoimento do jovem que sobreviveu, sobretudo, quando ele diz que os piores momentos de sua vida, além de ver seus irmãos mortos, era ouvir os gritos de seus pais sendo espancados sem que ele pudesse fazer nada, já que estava sem forças no chão. Nesta semana, uma empresária foi seqüestrada e morta na zona Leste de São Paulo. Estas são apenas algumas ocorrências. As mortes, os assassinatos, os latrocínios e os estupros que vitimam pessoas trabalhadoras das periferias acabam se transformando em frias estatísticas policiais.
Mas, se não bastassem as falcatruas e os roubos de políticos e empresários que, é claro, vão depor sempre com um hábeas corpus, nos salões verdes ou azuis do Congresso Nacional, o povo tem ainda que conviver com o descaso daqueles que são eleitos para administrar nossas cidades, estados e a União. Um triste exemplo desse descaso aconteceu há 15 dias na Capital paulista.
Um garoto de apenas quatro anos caminhava tranquilamente com os seus familiares durante a noite, na zona Norte da cidade, quando acabou caindo num bueiro aberto, sendo arrastado pelas águas. Seu corpo foi levado pelas águas do poluído rio Tietê e encontrado, anteontem, próximo à cidade de Pirapora do Bom Jesus.
Será que apenas pedidos de desculpas, ou justificativas sem fundamento de nossas autoridades, seriam suficientes para diminuir a dor daquela avó que teve o neto seqüestrado e morto por engano, desse jovem de origem japonesa que viu toda sua família ser brutalmente assassinada, da família que perdeu a mãe empresária, ou dessa família que perdeu um filho graças ao descaso dos administradores públicos? No Brasil, as autoridades estão brincando com fogo e Goianésia pode não ser apenas no Pará.

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