Comissão da Verdade de Osasco refaz relatório sobre Hirant Sanazar

De acusado de corrupção, como aparece no relatório preliminar da Comissão da Verdade, Hirant poderá aparecer como vítima da Ditadura Militar. 

Na tarde desta segunda-feira, 6, aconteceu uma histórica audiência pública da Comissão Municipal da Verdade (CMV), de Osasco, que mudará um capítulo da história do município e da sua relação com a Ditadura Militar. Os fatos relatados na audiência, realizada no Plenário da Câmara Municipal, vão alterar também o relatório da Comissão, onde fala sobre o primeiro prefeito Osasco, Hirant Sanazar, e dos motivos do seu afastamento da Prefeitura, em 1963.

Conforme o relatório preliminar da CMV, concluído em dezembro de 2014 e enviado à Comissão Nacional da Verdade, Hirant Sanazar teria sido afastado sob acusação de corrupção, fatos que ele sempre negou. Há também documentos da própria Câmara Municipal, que o reconduziu à Prefeitura, afirmando que as denúncias eram infundadas.

O outro lado

O relatório da Comissão da Verdade de Osasco deixou indignados a Família Sanazar e todos os parentes do ex-prefeito, já falecido, dentre eles o ex-vereador e proprietário do jornal Diário da Região, Vrejhi Sanazar. Vrejhi solicitou, então, a realização dessa audiência pública para mostrar os documentos em defesa de Hirant.

Conforme o relato de Vrejhi Sanazar, Hirant ficou detido incomunicável, durante 19 dias, em um dos quartéis do Exército em Osasco. Ele teria sido acusado de corrupção por adversários políticos e preso, juntamente com alguns vereadores por determinação de um oficial do Exército.

Algum tempo depois, os vereadores foram liberados e o Hirant continuou preso. E, como determinava a Lei Orgânica, caso o prefeito passasse mais de 15 dias fora do município, o cargo de prefeito seria considerado vago, assumindo o vice.  E assim, a Câmara deu posse ao vice-prefeito, Marino Nicoletti, que era adversário político de Hirant Sanazar. Só que, como alegam os familiares, o Hirant, encontrava-se na cidade, preso e incomunicável.

No entanto, alguns meses depois, a própria Câmara arquivou as denúncias, considerando Hirant inocente e o reconduziu à Prefeitura. O Inquérito Policial Militar (IPM) também foi arquivado.

Durante a audiência pública, foi exibido um vídeo de mais de 40 minutos, resumo de um discurso de mais duas horas, que o Hirant Sanazar fez no IEAC - 21 (Instituto de Estudos, Ação e Cooperação Século XXI), na década de 1990. Indignado, Hirant mostra os documentos que comprovam a sua inocência. No vídeo, Hirant afirma também que, em vez de corrupção, ele "foi afastado por vingança política e que teria sido vítima da Ditadura Militar".

Equívocos

Diante dos fatos, os membros da CMV admitiram o equívoco da Comissão por desconhecerem tais documentos, que se encontravam em poder da Família Sanazar. Segundo a vereadora Mazé Favarão,  "na época, a Câmara deturpou os fatos e que a Comissão se baseou nos registros do Legislativo".

Conforme ficou definido, a CVM vai retirar do relatório a afirmação de que "o primeiro prefeito de Osasco, Hirant Sanazar" fora afastado do cargo "sob acusação de corrupção" Um dos membros da Comissão sugeriu ainda, que se façam outras investigações sobre o período da prisão de Hirant, admitindo a hipótese de que o mesmo possa configurar como "vítima da Ditadura".

A audiência foi presidida por Jorge Nazareno, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e membro de uma das subcomissões da CVM. Estiveram presentes também outros membros, dentre eles o coordenador de Relações Internacionais da Prefeitura, Luciano Jorcovich, e a vereadora Mazé Favarão.

O evento ainda contou com a presença de familiares de Hirant Sanazar, do presidente da Câmara, Jair Assaf, de vereadores, dos ex-prefeitos de Osasco, Silas Bortolosso e Francisco Rossi, da imprensa regional e de um grande público. (Fotos: Renato Ferreira)

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