Desarmar bandido também é preciso
Tenho acompanhado com muita atenção a discussão nacional que se trava em torno do referendo sobre a proibição da venda de armas e munição no Brasil, que acontecerá no próximo dia 23. Meu objetivo não é influenciar ninguém a respeito do “sim” ou do “não”, até porque ainda tenho dúvidas e levo muito a sério os argumentos de ambos os lados, excetuando, é claro, alguns exageros e até inverdades. Portanto, gostaria apenas de colaborar com a discussão, colocando em pauta alguns itens que considero de suma importância nesse momento tão difícil por que passa o país, sobretudo, no campo da ética na política.
Primeiro, acho que a paz é o sonho de todas as pessoas e, nesse caso, uma arma de fogo, com certeza, não contribuirá em nada na busca desse objetivo. Porém, o caminho para se buscar a paz não passa, necessariamente, apenas por um teórico desarmamento, uma vez que as pessoas de má índole continuarão com as suas armas.
Outro ponto a ser destacado é o momento em que as autoridades encontraram para realizar o tal referendo. Temos questões muito mais sérias, sobre as quais o povo está ansioso para opinar, como o próprio combate ao crime organizado, à corrupção, ao crime do colarinho branco e à covarde concentração de renda, causa principal da desigualdade social.
Com certeza, todas as pessoas de bem, objetivam viver num mundo sem armas. Mas, está claro que esse referendo vai tirar apenas as armas das mãos de quem não rouba e de quem não mata. O marginal, aquele que mata para roubar, ou um simples ladrão de casa, continuará adquirindo suas armas, legal ou ilegalmente.
Argumentos dos dois lados são fortes o bastante para convencer os indecisos. Pelo “sim”, não precisa nada mais contundente do que as lágrimas de uma mãe que perdeu o filho, vítima de uma bala perdida. Mas, é fato também que esse tipo de morte não lidera as estatísticas de morte por arma de fogo. Já, pelo lado do “não”, temos no Brasil, o estado do Rio Grande do Sul, a unidade federativa com mais cidadãos armados e o menor índice de homicídio. Isso ocorre também com o Canadá, país com o maior número de cidadãos armados e o menor índice de mortes a bala.
Em resumo, a violência, ou a criminalidade, está proporcionalmente ligada ao nível educacional de um povo. E, o Rio Grande do Sul, no Brasil, como o Canadá, no mundo, são exemplos dessa realidade. Portanto, além do gasto desnecessário e inoportuno com esse referendo popular, quando o Tribunal Superior Eleitoral gastará mais de R$ 500 milhões com a sua realização, as autoridades brasileiras continuam tentando apenas combater as conseqüências e não as causas da violência. Uma criança educada, com conhecimento cultural do mundo e da sua realidade, que teve condições de aproveitar todos os bons momentos desde a infância até a vida adulta, com certeza, jamais pegará numa arma de fogo para matar.
Uma pessoa que tem a revolta dentro de si, oriunda ou não da desigualdade social e dá concentração de renda, não precisa de uma arma de fogo para matar. Ela mata com as próprias mãos ou com um pedaço de pau, como aconteceu há poucos dias, em Fortaleza, onde um ajudante matou um mendigo, depois que este reclamou por não receber a esmola pedida. E o que falar das vítimas de cães ferozes, verdadeiros animais assassinos, fabricados por pessoas sem responsabilidade, ou das mortes no trânsito, onde as autoridades continuam liberando cartas até para pessoas analfabetas?
Hoje, o estatuto do desarmamento já dificulta para qualquer pessoa adquirir uma arma de fogo. Cabe então ao Governo a responsabilidade de desarmar, sim, mas toda a população, inclusive os bandidos. Jogar para a população o dever de tirar o direito de alguém é a mais clara falta de força de um Governo, que não combate a corrupção e muito menos a criminalidade.
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