Abstenção, votos nulos e brancos também manifestam vontade do eleitor
A maioria dos eleitores brasileiros optou por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que foi reeleito neste domingo com mais de 58 milhões de votos, o equivalente a 60,8% dos votos válidos. E como é bom se viver num país democrático, onde se respeita a vontade da maioria. Lula é o atual presidente e a maioria dos eleitores que votaram quiz que ele continuasse por mais quatro anos.
Porém, o resultado das urnas de domingo nos obriga também a fazer uma outra leitura, isenta, sobre a vontade do eleitor. O total do eleitorado brasileiro é de 125.913.479 eleitores. Destes, 23.914.326 (18,99%) se abstiveram, ou seja, não quiseram votar. Simplesmente, não foram às urnas. Estavam viajando, passeando ou foram pescar, além de um número pequeno que mora fora do domicílio eleitoral e que preferiu não se deslocar para votar. Por outro lado, 1.351.500 eleitores (1,23%) votaram em branco e 4.808.500 (4,71%) anularam o voto.
Veja, portanto, que mesmo obtendo a maioria dos votos válidos, o presidente Lula não foi eleito pela maioria dos eleitores brasileiros. Somando os 30.074.269 dos que se abstiveram, dos que votaram em branco ou anularam o voto, mais os 37.543.028 eleitores de Alckmin, a soma é de 67.617.297 eleitores que, em tese, gostariam de ver outro resultado.
Isto nem de longe tira a legitimade da vitória de Lula. O que fica claro é que, por várias circunstâncias e motivos desconhecidos, os 58 milhões que votaram em Lula não levaram em conta os escândalos que aconteceram neste governo. Destes, no mínimo, 40 milhões de eleitores são beneficiados pelo Bolsa Família. São eleitores que ganham menos de R$ 100 por mês. Alguém poderá questionar, alegando que que entre os que se abstiveram muitos poderiam ser eleitores de Lula. É uma hipótese. Como também muitos poderiam ser eleitores de Alckmin ou eleitores que não quiseram votar em nenhum dos candidatos apresentados, uma vez que a abstenção foi grande também no primeiro turno, ficando em torno 16%, ou 21.082.355 eleitores. No primeiro turno, 2.866.201 eleitores votaram em branco e 5.957.829 anularam o voto.
Portanto, o dado concreto da eleição, levando-se em conta o conjunto do eleitorado brasileiro, é que 58 milhões preferiram o Lula, enquanto 67 milhões, gostariam que o resultado fosse outro. A abstenção, o voto branco e o voto nulo são também manifestações legítimas do eleitor.
4 Comentários:
: )
Renato, como você analisa a perda de mais de 2 milhões de votos por GA, no segundo turno?
Gisele
Em minha opinião, essa perda de votos do Alckmin no segundo turno é resultado de um conjunto de fatores, passando pela situação econômica da maioria do povo brasileiro, que leva o eleitor a fazer uma barganha do voto, mesmo que seja inconsciente, por favores do governo; a estratégia de campanha dos tucanos e, por fim, a própria postura muito passiva do candidato, que não soube explorar a incoerência e as falhas do adversário e nem enfatizar as suas qualidades como governador de SP.
Basta ver o resultado das urnas. A expressiva votação do ex-líder sindical, Lula, vai crescendo proporcionalmente ao nível cada vez mais baixo do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Nos municípios com IDH baixíssimo, igual ao de países como o Haiti, Lula chegou a ter 81% dos votos, enquanto que nos municípios com um IDH de primeiro mundo, como em São Caetano do Sul, o vencedor foi Geraldo Alckmin.
Essa desigualdade social é a principal arma de quem quer se perpetuar no poder com políticas assistencialistas. É uma moeda de compra do eleitor que, inclusive, em muitos casos foi usada até com ameaças de represália a municípios que dependem muito dos repasses do governo. E, como sempre ocorre no Brasil, não é fácil ganhar uma eleição de quem está no governo, que tem a máquina e a caneta na mão.
Por outro lado, os responsáveis pelo marketing da campanha tucana não foram capazes de levar ao eleitor as bandeiras do partido. Ao serem acusados de privatizantes, eles simplesmente acusaram o golpe e passaram a se defender, como se assinassem um atestado de que "erraram" no passado. Ora, eles tinham que rebater esse argumento, inclusive, citando as próprias privatizações e concessões do governo Lula. Eu, pelo menos, não vi esse debate.
A todo momento, o presidente Lula se vangloriava de que não precisou fazer planos econômicos mirabolantes, como os Planos Bresser, Collor e outros para controlar a economia. Mesmo assim, os tucanos não foram capazes de mostrar ou rebater com ênfase, afirmando,por exemplo, que se o PT não precisou de planos mirabolantes, foi justamente porque o Lula encontrou uma economia estável, graças ao Plano Real, criado e mantido pelo governo de FHC.
E por fim, o próprio candidato, que tinha que perceber essas incoerências do adversário e explorá-las nos debates, comícios e entrevistas, usando uma linguagem simples e de fácil entendimento do povão.
Outro exemplo: para se defender dos crimes de corrupção, o Lula sempre fazia uma comparação do governo com um pai de família. "Veja, você, que tem cinco filhos. Um deles pode entrar por um caminho errado sem que você fique sabendo". É uma linguagem simples que o trabalhador humilde entende, sobretudo, vivendo com esse alto índice de criminalidade, onde o seu filho é presa fácil do tráfico de drogas.
Nesse caso, o Geraldo tinha que concordar que o pai não era obrigado a saber antes, mas, ao ficar sabendo, era obrigação dele chamar a atenção do filho, alertando-o de que má conduta atrapalha toda a família e ele, como pai, não pode concordar com o crime. É a velha tática de usar as próprias armas do inimigo para derrotá-lo.
Desculpe o longo comentário.
Renato,
Muito boas as suas análises. Só não enxerga quem está com a pior das cegueiras: a psicológica.
Ontem (30), as "meninas" do Jô, e ele próprio, não foram capazes de fazer um único comentário digno e livre como o seu a respeito desse mesmo assunto.
As "meninas" são jornalistas especializadas, da grande imprensa. Brincaram com o tema e se esforçaram ao máximo para agradar ao governo e ao presidente reeleito. Indigno do público que dá audiência à TVG neste horário da noite.
Espero que não estejamos reeditando o famigerado "passaralho" nas redações. Só que agora numa versão pseudo-esquerdista.
Saudações dessa colega, que estreou em avant-première essa triste miséria que uma das "meninas" convidadas do Jô também experimentou no governo Collor. Quem não se lembra da forma vil como Lilian Wite Fibe foi demitida da Rede Globo por criticar o Plano Collor?
Parece que ela jamais irá querer confrontar-se com o governo por meio de críticas aos seus famigerados planos. A julgar pela forma como Fibe se comportou no programa, esta semana, penso que agradou muito a direção da emissora e acumulou alguns créditos para uma possível volta à tela global.
Pouco provavél, porém, não custa se esforçar, mesmo que isto pegue muito mal perante o público formador de opinião.
Merci.
Bonne journée...
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