Em plenária do João Paulo, petistas "condenam" julgamento do mensalão
Mais de mil pessoas lotaram o auditório do Colégio Mesericórdia, Centro de Osasco, na noite desta sexta-feira, 23, para participarem de um evento político promovido pelo deputado Federal, João Paulo Cunha (PT-SP). Tradicionalmente, o petista promove uma palestra no final do ano para analisar o que foi feito no período e planejar as realizações do ano seguinte. Mas, agora, em 2012, como os próprios organizadores enfatizaram, pelas circunstâncias políticas do momento - eleições e mensalão - a plenária tinha também outras perspectivas e finalidades, com dois temas em pauta: Eleições municipais e a Ação Penal 470, conhecida também como mensalão E foi o que realmente aconteceu. Com discursos inflamados, os petistas "condenaram" o julgamento do mensalão e conclamaram a militância a ir para as ruas em defesa dos petisas condenados num julgamento "político" e imposto "por parte de uma mídia que não aceita o PT no poder", segundo todos os líderes que discursaram.
João Paulo Cunha não participava de eventos públicos desde agosto, quando desistiu da candidatura a prefeito da cidade, após ter sido condenado pelo STF, na Ação Penal 470, pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. A dosimetria (cálculo) de sua pena deve ser definida pelos ministros do STF na próxima semana.
O evento contou com a presença de quase toda a cúpula petista estadual e deixou bem claro quais são os planos que o partido pretende colocar em prática nesse embate, não contra o Poder Judiciário em si, mas, como foi destacado, contra um julgamento que eles julgam "injusto" contra pessoas honestas do partido e que sempre trabalharam pela redemocratização do país, segundo os petistas. Dentre outras lideranças, estiveram presentes o promotor da plenária, João Paulo Cunha, o prefeito de Osasco, Emidio de Souza, o prefeito de Carapicuiba, Sérgio Ribeiro; o presidente estadual do PT, deputado estadual Edinho Silva, os deputados estaduais Cândido Vacarezza, Vicente Cândido, José Mentor, Devanir Ribeiro e Carlos Zaratine, o ex-deputado José Genoino e o ex-ministro da Casa Civil, de Lula, José Dirceu, além de deputados estaduais, prefeitos e vereadores de diversas regiões do estado. Apesar de ter sua presença confirmada pelos organizadores, o presidente nacional do PT, Rui Falcão não compareceu.
Por parte do governo Federal, que já se mostrou preocupado com esses eventos de desagravo aos petistas condenados, não compareceu ninguém. Apenas o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, enviou um representante. E, ausente por se encontrar no exterior, o ex-presidente Lula foi um dos mais mencionados pelos palestrantes. Durante a plenária, foi lido um convite do PT estadual para mais uma manifestação em defesa dos condenados, a ser realizada neste sábado em frente à Câmara Muncipal de São Paulo.
Eleições e mensalão
A plenária foi aberta pelo prefeito Emidio de Souza, saudado por João Paulo Cunha como a "maior" liderança petista de Osasco. Cumprindo seu segundo mandado, Emidio foi o responsável pela indicação do substituto de João Paulo, Jorge Lapas, que foi eleito com 138 mil votos, contra 149 mil do tucano Celso Giglio. Só que o tucano foi enquadrado na Lei de Ficha Limpa e teve a candidatua impugnada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Sem entrar em detalhes dos temas propostos, Emidio se limitou a agradecer os presentes e a desejar a todos um bom detabe. "Sejam bem-vindos. Vocês estão numa cidade que acretida na luta e no PT".
Em seguida, falaram Walmir Prascidelli, vice-prefeito eleito de Osasco, o prefeito de Carapicuiba Sérgio Ribeiro, o deputado estadual Alencar, os deputados federais Vicentinho, Cândido Vacarezza, Vicente Cândido, José Mentor, Devanir Ribeiro, Carlos Zaratine e o presidente estadual do PT, Edinho Silva. Todos destacaram a grande votação do PT nas eleições municipais, afirmando ter sido isso a "resposta" do povo em prol do PT, como também defenderam os petistas João Paulo, Genoino e Zé Dirceu, já condenados pelo STF. Dirceu foi condenado a 10 anos e 10 meses de reclusão, enquanto Genoino pegou 6 anos e 11 meses.
Companheiros "puros"
Emocionado, Vicentinho afirmou: "A elite não nos engole. Eles não aceitam que gente do povo chegue ao poder". Pracidelli disse: "O PT saiu vitorioso nestas eleições em todo o Brasil. E esses companheiros, hoje, condenados, dedicaram suas vidas pela democracia e são os responsáveis por levarmos um negro à presidência do STF". "Temos consciência da integridade de todos esses nossos companheiros, injustamente acusados de corrupção", disse Sérgio Ribeiro. "O povo brasileiro não vai se calar diante dessa opressão que ocorreu nesse julgamento", afirmou Zaratine. "Já vencenos muitas outras batalhas e veceremos esta também, porque somos do Partido dos Trabalhadores", enfatizou José Mentor. "Temos que fazer outros atos como este em todos os cantos do país em defesa desses homens que lutaram pela redemocratização do Brasil", afirmou Devanir Ribeiro. E a fala de todos, em defesa dos condenados, pode ser resumida nas palavras do deputado Vicente Cândido: "Esses companheiros foram acusados injustamente e a dor da injustiça é a que mais dói. Todos são honestos. Se o Genoíno cair no Rio Pinheiros, em 10 minutos ele é capaz de limpar esse rio, tamanha é a pureza deste companheiro", comparou Cândido.
José Genoíno
"Já falei muito sobre a Ação Penal 470 e a dor que ela nos causou. Mas, aprendi desde pequeno que a luta é feita com sentimento humano. Esse sentimento que prenciciamos hoje, aqui em Osasco, uma cidade que sempre me acolheu com muito carinho. O coração está doído, mas a cabeça está erguida, tranquila porque tenho a consciência da inocência".
José Dirceu
"Há dez anos, nossos adversários vêm sofrendo derrotas políticas e ideológicas. Agora, querem nos derrotar com o tema da ética nos campos que eles dominam. Portanto, temos que retomar a batalha da luta popular contra essa elite que não aceita o PT. Temos que colocar na discussão o papel do Ministério Público, da mídia e os limites democráticos. Não será uma luta fácil e nem a curto prazo. E vamos buscar a justiça em todas as instâncias nacionais e internacionais. Agora, com a força da luta popular, temos que fazer o julgamento do julgamento".
João Paulo
Após relatar episódios políticos e eleitorais com a presença do Lula, mostrando a força e a luta do ex-presidente pela redemocratização do país, João Paulo disse: "Nenhum de nós precisa de atos de desagravo. Realizamos esta plenária todos os anos e, após a minha condenação, fiz a opção por um silêncio obsequioso para não correr o risco de falar somente com a emoção. A campnha que fazem contra o PT é algo fora de propósito e o povo já começou a perceber que tem alguma coisa errada nesse julgamento. O Brasil que está na mídia não é o Brasil do pleno emprego, da economia sólida. Não é o Brasil que depois de 500 anos, graças ao projeto do ex-presidente Lula, elegeu a primeira mulher para a Presidência da República e que também colocou o primeiro negro na presidência do STF, porque isso era o projeto democrático do PT. Desde jovem fiz a opção pelo trabalho, por ficar ao lado dos trabalhadores e não vou mudar jamais. Vou cumprir tudo o que lei definir, mas, não vou me acomodar com a injustiça, porque sou inocente e nestas mãos não tem sujeira".
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1 Comentários:
Delúbio esquecido
O fato curioso que notei nesta plenária, que reuniu grandes nomes do PT, é que o Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, condenado a mais de 9 anos de prisão, não compareceu e foi,praticamente, esquecido pelos demais. O único que mencionou seu nome en passant foi o deputado Vicentinho.
Pelo jeito, o Delúbio tá frito.
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