- Inconformada com a violência e com a falta de itens básicos nos supermercados, a população venezuelana protesta nas ruas
Diante de uma grande instabilidade política e também insatisfeitos com a falta de itens básicos nos supermercados, milhares de estudantes opositores voltaram a sair às ruas, neste domingo, 16, em Caracas, para denunciar a violência que grupos de encapuzados e defensores do governo de Nicolás Maduro, estão praticando após as manifestações dos últimos dias na capital da Venezuela. O saldo desses violentos protestos já são 23 feridos e três mortos.
Conforme notícia publicada pelo jornal Zero Hora de Porto Alegre, mais de 3 mil pessoas, em sua maioria jovem, se encontraram no setor leste de Caracas para repudiar a violência registrada em Caracas e outras cidades do país. Grandes multidões têm saído às ruas em todo o país para protestar contra o governo.
"Vamos continuar na rua, em paz, sem violência. Exigimos do (presidente) Nicolás Maduro o desarmamento dos 'coletivos', até que não os desarmem, não deixaremos as ruas!", disse diante da multidão Gabriela Arellano, estudante da Universidade dos Andes (leste) e uma das líderes do movimento.
- Há 15 dias, estudantes e opositores ao chavismo têm se manifestado e entrado em conflito com a polícia
E, enquanto, estranhamente, a grande imprensa brasileira, sobretudo, do eixo Rio-São Paulo, tem se mantido calada sobre as sangrentas manifestações na Venezuela, o assunto tem chamado a atenção da imprensa europeia. Neste domingo, a RTP (emissora de Rádio e Televisão de Portugal) destacou os protestos em Caracas. http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=717227&tm=7&layout=122&visual=61
Os estudantes que iniciaram as mobilizações, há 15 dias, em diferentes localidades da Venezuela, responsabilizam os denominados "coletivos", simpatizantes do chavismo, de estarem armados e serem os responsáveis pela violência. "Os mais interessados em colocar em nós o rosto da violência é o governo, por isso infiltrou a marcha de 12 de fevereiro", disse Antonio Ledezma, prefeito metropolitano de Caracas e um dos líderes da oposição que participou de assembleia na semana passada.
Na última quarta-feira, foi registrada, em Caracas, a maior manifestação contra Maduro desde que ele assumiu o poder em abril de 2013. Na ocasião, aconteceram distúrbios e ataques à bala que se prolongaram durante todo dia e a noite, com saldo de três mortos, mais de 60 feridos e mais de 100 pessoas detidas.
As recentes mobilizações tiveram início no começo de fevereiro nos estados de Táchira e Mérida (leste). Os manifestantes denunciam a insegurança nos campi estudantis e o protesto se estendeu em todo o país. Os estudantes solicitam também a liberdade para colegas detidos e melhores condições de vida.
A Venezuela, que possui gigantescas reservas de petróleo, tem uma inflação anual de 56,3% e um índice de escassez que em janeiro alcançou um em cada quatro produtos básicos. Enquanto isso, a violência provoca entre 39 e 79 homicídios por ano a cada 100 mil habitantes, segundo as estatísticas oficiais ou de várias ONGs.
Segundo a notícia publicada no jornal gaúcho, a inteligência venezuelana recebeu ordem para prender um líder opositor na madrugada da última quinta-feira, depois que o presidente Nicolás Maduro chamou de tentativa de "golpe de Estado" os incidentes que deixaram três mortos e dezenas de feridos.
A juíza Ralenys Tovar ordenou ao Serviço Bolivariano de Inteligência a detenção do opositor Leopoldo López, acusado de homicídio, lesões graves e associação para delinquir, segundo informações do site do jornal El Universal.
- Irredutível, Nicolás Maduro fez duro discurso contra a oposição e denunciou a existência de um golpe contra o governo
Em um discurso exaltado de transmitido por rádio e televisão, Nicolás Maduro denunciou a existência de " um golpe de Estado em desenvolvimento", assegurando, contudo, que a " evolução bolivariana vai triunfar".
Oposição nas ruas
Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular - um dos maiores da oposição-, agora com ordem de captura, é um dos três dirigentes que estimulam a tática de ocupar as ruas com protestos contra o governo. Seu lema é: "A saída".
Os outros dois líderes do movimento contra Nicolás Maduro são o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e a deputada Maria Corina Machado, que tem imunidade parlamentar.
A tática da oposição nas ruas rendeu acusações de golpismo e divergências com outros opositores, como o ex-candidato presidencial Henrique Capriles.
Mas, mesmo com divergências, os três dirigentes ratificaram a estratégia na noite de quarta-feira. "Diante de uma tirania a resposta é a rua e a mobilização", disse a deputada Maria Corina Machado, que chama o governo de ditadura Castro-Comunista. "Seguiremos com nossa agenda de luta nas ruas", completou o prefeito Ledezma.
Maduro foi eleito em abril de 2013 por pequena margem de 1,5% ante Henrique Capriles. Mas oito meses depois, nas eleições municipais de dezembro de 2013, os candidatos do governo receberam 55% dos votos.
Durante os protestos de quarta-feira, uma equipe de jornalistas da Agencia France-Presse, que cobria a manifestação, teve uma câmera roubada por um grupo de pessoas usando símbolos chavistas. A unidade de polícia procurada pelos jornalistas se recusou a prestar ajuda e se limitou a dizer que a equipe não deveria estar no local. "Vocês deveriam saber o perigo que estavam correndo quando vieram para cá — , disse o coronel da Guarda Nacional Bolivariana D. González às jornalistas Patricia Clarembaux e Mariana Cadenas.
Na câmera roubada estavam gravadas imagens que registram o uso de gás lacrimogêneo contra os manifestantes, prisões e golpes dados por homens uniformizados contra seis estudantes. Havia também o relato de uma jovem que contava o que tinha acontecido.
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