A poucos dias dos 50 anos do golpe militar de 1964, ocorrido em 31 de março e que se transformou na Ditadura Militar no Brasil, um coronel da reserva quebra o silêncio e confessa crimes praticados durante a ditadura. Trata-se de Paulo Malhães
(foto), que prestou depoimento nesta terça-feira, 25, à Comissão Nacional da Verdade (CNV). Ele confessou ter torturado e matado presos políticos nesse período, além de ocultar os corpos das vítimas. No depoimento, Malhães mudou o depoimento que havia dado antes sobre o desaparecimento do corpo do deputado Rubens Paiva. Indagado sobre abuso sexual contra presas políticas, o coronel da reserva disse que "se houve, foi um ou dois casos".
Apesar de ter confessado que torturou e matou, durante duas horas de depoimento, Paulo Malhães se recusou a dar nomes de assassinados pela ditadura militar, como também nomes de agentes da repressão. Ele também negou a informar quantos presos ficaram detidos na "Casa da Morte", um centro de tortura clandestino, localizado em Petrópolis, na Região Serra do Rio de Janeiro.
Sobre a "Casa da Morte", o coronel disse que o local funcionava como "um centro de conveniência, onde se procurava ganhar o preso para ele voltar como infiltrado na própria organização". "Conseguimos vários", afirmou, sem contudo, fornecer nomes ou quantidade.
Para o ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias, o depoimento foi muito importante. "Ele acabou por reconhecer que é um torturador. Poucas vezes tivemos a confissão de um torturador como ele fez, justificando que tinha que torturar um inimigo. Perguntei se ele teria o mesmo critério para o crime comum, e ele assumiu que sim - para o roubo, para o tráfico. E não tinha nenhum remorso pela tortura e mortes praticadas", disse José Carlos Dias, integrante da CNV.
Sem imprensa
Paulo Malhães aceitou depor, mas queria ser ouvido reservadamente. Depois, aceitou falar com a presença da imprensa, desde que não fosse perguntado por repórteres. Malhães chegou ao Arquivo Nacional, por volta das 14 horas, numa cadeira de rodas. No local, a Comissão ouviu também a historiadora Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, que acabou não se encontrando com o militar da reserva. Inês Eienne, 72 anos, ficou 96 dias confinada na Casa da Morte. Com dificuldades para falar devido a um ataque sofrido em 2003, que nunca foi esclarecido, ela disse apenas: "É uma página virada".
Durante o depoimento e com frieza, Malhães defendeu a tortura como um meio de os militares obter informações de "elementos de grande periculosidade". "Eu mesmo, quando comecei minha vida, cheguei a fazer tortura." Indagado sobre violência sexual, Malhães negou que ele ou outros agentes tenham cometido. "Se houve, foi um ou dois casos. Mulher subversiva para mim é homem. Foram presas mulheres lindas, mas não atraíam minha atenção. Considerava-as meu inimigo.", disse Malhães.
Rubens Paiva
Sobre o desaparecimento do corpo de Rubens Paiva, Malhães disse que foi mal interpretado, quando deu entrevista sobre o caso. Disse, porém, que chegou a receber a missão para sumir com o corpo, mas que foi trocado de função posteriormente.
"Eu só disse que fui eu porque acho uma história muito triste quando a família diz que leva 38 anos querendo saber o paradeiro do corpo. Não sou sentimental, não. (Falei) Para não começar uma guerra para saber onde estava o corpo".
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