Crítica do Brasil a Israel gera impasse entre os dois países

Ao contrário da política de neutralidade que tem tomado nos últimos anos em relação a conflitos internos de outros países ou mesmo a guerras, na quarta-feira, 23, em nota oficial, o Brasil classificou como "inaceitável" a escalada da violência na Faixa de Gaza, envolvendo Israel e a Palestina. No mesmo dia, o governo Federal chamou o embaixador em Israel "para consulta". Essa atitude do Brasil acabou gerando um impasse diplomático entre os dois países que mantêm relações diplomáticas. Na quinta-feira, Israel respondeu às críticas e disse que o Brasil " é um anão diplomático e não colabora para a solução do conflito".

Ao chamar o embaixador em Israel, o governo brasileiro tornou pública uma medida diplomática excepcional, que é tomada somente quando o governo avalia como grave a situação do outro país e quer demonstrar que não concorda com a mesma. A última vez em que isso aconteceu foi quando o governo chamou o embaixador do Paraguai para consulta, após o impeachment de Fernando Lugo. Na época, o Brasil considerou o fato como "ruptura da ordem democrática".

Em outros casos, no entanto, como na guerra civil da Síria, ou nos conflitos na Ucrânia, o Brasil preferiu o silêncio. Nesses casos, o Brasil tem procurado se manifestar através de pronunciamentos na ONU.

Até o momento, cerca de 700 palestinos e 32 israelenses já morreram nos conflitos na Faixa de Gaza. Do lado palestino, a maioria absoluta das vítimas é de civis, uma vez que não existe a separação entre civis e militares, enquanto que do lado de Israel, dos 32 motos, 29 são militares. 

E o conflito parece não ter fim. Israelenses e palestinos acusam uns aos outros. Durante reunião extraordinária,  na quarta-feira, do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, tantos israelenses como palestinos alegaram que  tem agido dentro das leis internacionais durante a escalada de violência.

Brasil critica

Mas, para o governo brasileiro, está havendo o uso de força desproporcional nesse conflito, conforme nota do Ministério das Relações Exteriores. "O governo brasileiro considera inaceitável a escalada da violência entre Israel e Palestina. Condenamos energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças. O governo brasileiro reitera seu chamado a um imediato cessar-fogo entre as partes". 

Veja a íntegra da nota:

Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete

Nota nº 168
23 de julho de 2014

Conflito entre Israel e Palestina

O Governo brasileiro considera inaceitável a escalada da violência entre Israel e Palestina. Condenamos energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças.

O Governo brasileiro reitera seu chamado a um imediato cessar-fogo entre as partes.

Diante da gravidade da situação, o Governo brasileiro votou favoravelmente a resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre o tema, adotada no dia de hoje.

Além disso, o Embaixador do Brasil em Tel Aviv foi chamado a Brasília para consultas.

Israel rebate

Um dia após a nota do governo brasileiro, Israel rebateu, energicamente, afirmando, por meio do Ministério de Relações, que a medida torna o Brasil um "parceiro diplomático irrelevante". A nota afirma ainda:  “Isso é uma demonstração infeliz de por que o Brasil, um gigante econômico e cultural, continua um anão diplomático", disse o porta-voz do Ministério de Relações de Israel, Yigal Palmor, segundo o jornal Jerusalem Post.

Ainda segundo o jornal de Israel, o porta-voz israelense  afirmou que o  “O relativismo moral por trás dessa medida torna o Brasil um parceiro diplomático irrelevante, que cria problemas em vez de contribuir para soluções."


Em nota enviada à imprensa, o Ministério das Relações Exteriores de Israel não foi tão duro e mostrou-se mais diplomático. “Israel manifesta o seu desapontamento com a decisão do governo do Brasil de retirar seu embaixador para consultas. Essa decisão não reflete o nível das relações entre os países e ignora o direito de Israel de se defender. Tais medidas não contribuem para promover a calma e a estabilidade na região. Em vez disso, eles estimulam o terrorismo, e, naturalmente, afetam a capacidade do Brasil de exercer influência”, afirma o comunicado à imprensa.


Tréplica

E nesta quinta-feira, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil rebateu as críticas feitas por Israel. O chanceler Luiz Alberto Figueiredo disse que o Brasil é um dos poucos países que mantêm relações com todas as nações da ONU e,  por isso, não pode ser chamado de "anão diplomático". Figueiredo reconhece também o direito de Israel se defender, mas reiterou a opinião anterior, afirmando que "os ataques de Israel são desproporcionais".


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