quinta-feira, março 01, 2007

Senhores políticos, não deixem que outros meninos sejam arrastados até a morte

16/02/2007
Estarrecedor, assustador, lamentável, vergonhoso, deprimente, humilhante, vexatório, covarde, triste. Quais os termos que poderíamos continuar usando para tentar qualificar o brutal e cruel assassinato do pequeno João Hélio, de 6 anos, arrastado até a morte por bandidos no Rio de Janeiro? Com certeza, não há expressão humana para explicar atitude tão irracional desses covardes marginais que arrancaram esse menino dos braços de sua mãe e, conseqüentemente, arrancaram também mais um pouco da esperança que os brasileiros tinham em poder viver num país com o mínimo de segurança. Alíás, como manda a Constituição Brasileira, que diz que todos os brasileiros têm direito à educação, saúde, habitação, segurança e lazer. Portanto, tem alguém descumprindo a Constituição Brasileira.
Há alguns anos, escrevi uma opinião neste mesmo jornal afirmando que os maiores culpados pelas mazelas do país são os políticos, como também são responsáveis por tudo de bom que o poder público faz pelo povo. E ainda não mudei de opinião. Após a morte de João Hélio, esperava que o presidente Lula, ou alguma outra autoridade brasileira, fosse à televisão e, em rede nacional, pedir desculpa ao povo e também dar satisfação sobre esta onda infernal de violência. Mas, ninguém apareceu. Depois, já em Salvador, durante reunião de cúpula do PT, o presidente disse que "estava indignado e que o povo precisaria rever seus valores".
O presidente está certo e não tiramos dele o direito de se indignar com um crime desses. Porém, dos políticos e governantes, o povo espera muito mais do que um discurso indignado. O povo precisa de quem governe, administre e, no mínimo, cumpra a Constituição.
Nos dias seguintes ao crime, todos os políticos brasileiros, principalmente, do Congresso Nacional, externaram suas opiniões. E, como sempre acontece nessas ocasiões, todos apresentam soluções mágicas, como a redução da maioridade penal, a instituição da pena de morte ou de prisão perpétua, como também aqueles que afirmam que nenhuma medida ou lei pode ser votada sob a emoção de um crime, ou sob a pressão popular. Para esses, como o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, o presidente do Senado, Renan Calheiros, e a presidente do Supremo Tribunal Federal, Elen Grace, lembramos que, se for assim, nada será feito, porque todos os dias os brasileiros estão sendo surpreendidos com crimes cada vez mais violentos.
O que precisamos também é de políticos, governantes e pessoas responsáveis pela aplicação da lei que sejam responsáveis e pensem de verdade no povo brasileiro. Há muitos anos, já ouvi alguém dizer que se as autoridades brasileiras não tomassem providências urgentes, o Brasil poderia se transformar numa Colômbia gigante. O tempo passou, as autoridades não fizeram nada e nem perceberam que já estamos muito piores do que a Colômbia, pois, se aqui não são as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que comandam o tráfico, é o crime organizado que tomou conta do país.
Sei que é difícil para um filho de uma grande autoridade ter a mesma falta de sorte do pequeno João Hélio, uma vez que se esse filhos saem de carro, estão sempre acompanhados de seguranças fortemente armados. Mas, a violência chegou a tal ponto que nem mesmo as altas autoridades estão livres das emboscadas. A própria presidente do STF teve muita sorte recentemente, quando saiu ilesa de um assalto na Linha Vermelha, no Rio de Janeiro. Será que as autoridades teriam a mesma opinião se a ministra Elen Grace tivesse sido morta naquele assalto? Graças a Deus que isso não aconteceu.
Durante esta semana ouvi diversos discursos contra e a favor da pena de morte, da prisão perpétua e da redução da maioridade penal. Mas, pouca coisa ou nada ouvi falar sobre o direito que João Hélio tinha de continuar vivendo feliz com a sua família. Inclusive, ouvi a opinião do governador do Rio, Sérgio Cabral, que sugere penas diferentes para cada Estado brasileiro. Não concordo com isso, pois, quando o Rio de Janeiro tiver uma legislação mais rigorosa com os criminosos, é claro, que os bandidos irão barbarizar os Estados com legislação mais branda. Justamente, o que eles fazem hoje em todo o Brasil, porque, infelizmente, apesar de tantas leis, o criminoso tem certeza da impunidade.
Ouvimos também opiniões a respeito da responsabilidade da sociedade. Temos ciência de que toda a sociedade, incluindo os administradores públicos, juízes, empresários e o povo em geral, é responsável pelo que ela produz. E, infelizmente, um desses produtos é o marginal.
Mas, quem é o maior culpado? A sociedade já faz a sua principal parte que é gerar emprego, trabalhar e pagar uma alta taxa de impostos, que são usados para pagar o salário de todos os governantes e funcionários públicos para que eles administrem o país, os estados e as nossas cidades. Talvez o maior erro da sociedade é ainda não saber escolher os seus representantes. Escolhem mal e, o pior: não sabem tirá-los do poder.
Poucos dias antes do assassinato de João Hélio, o que ouvi muito foi uma discussão entre membros do Judiciário e deputados sobre quem ganhava menos e quem teria o direito de ganhar mais. Um ministro disse que trocaria o seu salário de R$ 24 mil pelo de um deputado federal. Foi o suficiente para que os deputados abrissem fogo contra o ministro do STF. E veja que toda essa briga ocorre num país onde o trabalhador ganha um mísero salário mínimo de R$ 380,00.
Portanto, senhores políticos, contamos com o trabalho de vocês, principalmente com os senhores que acabam de tomar posse com a responsabilidade de resgatar a dignidade da classe política brasileira. Antes de brigar por salário e legislar em causa própria, lembrem-se de fazer algo para evitar que outros meninos sejam arrastados até a morte. E não pensem que isso só ocorre no Rio de Janeiro.
Caro leitor, se você concorda ou não com esta opinião e deseja opinar, deixe aí em baixo o seu comentário. Ele é muito importante, sobretudo, diante deste triste e obscuro momento por que passa a sociedade brasileira. Esta opinião foi publicada também no jornal Correio Paulista (www.correiopaulista.com).

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