Lula prega um governo cada vez mais à direita
Como disse o ex-primeiro ministro da Espanha, Felipe González, "o poder é como violino: pega-se com a esquerda e toca-se com a direita". Foi justamente isso que o PT fez no Brasil, durante este primeiro mandato de Lula. E, pelo andar da carruagem, o presidente caminha a passos largos para um segundo mandato ainda mais à direita.
Durante mais de 20 anos, o PT fez um discurso de esquerda. Cansou de acusar os governos anteriores, sobretudo, a política econômica. Mas, bastou chegar ao poder para implantar uma política ainda mais ortodoxa, sob o comando de um petista, Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda, e de um tucano, Henrique Meireles, presidente do Banco Central. Assim, o governo petista continuou com um absurdo superávit primário para pagar juros do FMI, mantém uma das mais altas taxas de juros do mundo, parou de criticar a CPMF, implantou uma das mais altas cargas tributárias do planeta e possibilitou aos Bancos a obtenção de lucros jamais vistos na história brasileira.
Após ser reeleito, Lula disse que ele mesmo é quem vai escolher seus novos ministros. Em 2002, essa missão foi dada ao ex-ministro José Dirceu, que depois foi cassado sob acusação de ser o mentor do mensalão. O resultado das escolhas de Dirceu é conhecido por todos.
Mas, mesmo se José Dirceu não estiver mais influenciando no governo - o que muita gente duvida - o que se sabe é que uma das características de Lula é a sua vocação para não deixar antigos ou novos companheiros desempregados. Foi assim que ele agiu no primeiro mandato, quando aumentou o número de ministérios para não deixar companheiros derrotados, como Benedita da Silva e Olivio Dutra sem emprego. Criou até o Ministério da Pesca para empregar um amigo derrotado de Santa Catarina.
Agora, com os apoios que recebeu para se reeleger, além dos companheiros petistas, Lula terá que contemplar também novos companheiros de outras legendas e, pelo que se vê, os derrotados Delfim Neto (PMDB), deputado federal não reeleito por São Paulo, e a senadora Roseana Sarney, candidata derrotada ao governo do Maranhão, têm grandes chances de se tornarem ministros a partir de 2007.
Como todos sabem, Delfim Neto sempre foi um desafeto do PT. Chamado muitas de ministro do atraso e do arrocho salarial pelos petistas, Delfim que foi minitro da área econômica de quase todos os últimos governos, desde a ditadura militar, é hoje um tipo de conselheiro econômico do presidente Lula. Quanto à senadora Roseana Sarney, esta provocouu um tremendo racha no PT maranhense que mantém uma briga eterna com a Família Sarney naquele estado.
E essa inclinação de Lula e a sua aproximação com antigos adversários, tem provocado muitas intrigas internas no PT. O fogo amigo já começou e muitas lideranças petistas, dentre elas, o ex-deputado José Dirceu, o presidente interino do partido, Marco Aurélio Garcia, e lideranças na Câmara dos Deputados estão em pé de guerra com o presidente Lula, depois que este declarou que o partido irá perder espaço no próximo governo.
A expectativa agora é saber como será o comportamento de petistas históricos vendo o partido perder espaço no governo e, ao mesmo tempo, constatar espaço cada vez maior para partidos como o PMDB, PP, PL e PTB que cobrarão caro pelo apoio à reeleição de Lula. Além de disso, em nome da "governabilidade", os petistas terão que engolir possíveis ministros como Delfim Neto e Roseana Sarney, além da influência de senadores como Fernando Collor de Mello e de deputados federais como Paulo Maluf e Jader Barbalho, novos companheiros de Lula. Só faltará mesmo a instituição de algum Ato Institucional proibindo, por exemplo, a liberdade de imprensa, para que revivamos tempos obscuros da ditadura, que muitos petistas, com certeza, não gostariam de lembrar nem de brincadeira.
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