quinta-feira, dezembro 14, 2006

Senado ficará mais pobre sem Heloísa Helena

Nestes últimos dias, o Congresso Nacional tem sido marcado por discursos de despedidas. Muitos parlamentares, que não foram reeleitos, com certeza, não terão motivos para discursar. Outros, porém, que foram eleitos para governador ou vice-governador, recebem os parabéns dos colegas e muitos votos de sucesso na nova missão. É o caso, por exemplo, do senador Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL), eleito governador.
Dentre tantos discuros, nenhum marcou tanto, seja no plenário ou em todo o Brasil, através da TV Senado, como o da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), na quarta-feira. Trajando as suas inconfundíveis e tradicionais blusa branca e calça jeans, a brava, a aguerrida e a coerente senadora não conseguiu esconder as lágrimas e emocionou seus colegas durante um discurso de quase uma hora e meia, aparteado por todos os senadores presentes, tanto da oposição como da situação.
E o Congresso Nacional, sobretudo, o Senado da República, ficará mais pobre sem a presença de Heloísa Helena. O Congresso ficará mais pobre no campo da inteligência, da integridade, da lealdade, da coerência e, principalmente, no campo da ética política. Heloísa poderia estar hoje comemorando uma reeleição garantida pelo povo de Alagoas. Mas, ela preferiu, com certeza, o caminho mais árduo, porém, um caminho que servirá para despertar a consciência do povo brasileiro que parece estar inerte diante de tantos escândalos cometidos nos últimos tempos por políticos corruptos.
Depois de ser expulsa do Partido dos Trabalhadores, que ela ajudou a fundar e a eleger o presidente Lula em 2002, justamente por ser coerente e não concordar com os novos rumos - e que rumos tristes do PT - Heloísa Helesa fez o que parecia impossível. Fundou o PSOL e disputou a Presidência da República recebendo o carinho de milhões de pessoas.
As qualidades de Heloísa Helena foram reconhecidas por todos os senadores que a apartearam. Eles pediram que a brava senadora não fique isolada em Alagoas, mas que continue a percorrer o Brasil. Um dos parlamentares mais respeitados do Senado, Pedro Simon (PMDB-RS), chegou a sugerir à senadora alagoana que ela abra uma fundação em Brasília para continuar estimulando aqueles que ainda acreditam numa política séria e que luta em prol do povo brasileiro.
Ao iniciar seu discurso, ela disse: "Eu vim preparada para não derrubar uma lágrima. Eu tinha me comprometido com a senadora Patrícia Saboya (PSB-CE)], com a deputada Luciana Genro (PSOL-RS)]. Eu cheguei, fui falar com o senador Jefferson Peres (PDT-AM) e já comecei a chorar. Quero agradecer a todos e todas que foram presença delicada e generosa em minha passagem por esta Casa. Agradeço aos senadores, aos servidores da Casa, de todos os setores, que sempre me apoiaram". JeffersonPeres disse ter esperado que o momento de despedida da senadora "não chegasse nunca". "Senadora, já me despedi de muitos senadores nesta Casa, alguns do porte de Darcy Ribeiro e Josaphat Marinho. Mas, creio, nenhuma dessas despedidas me comoveu tanto quanto esta, pela nossa identidade, pelas nossas afinidades, embora sejamos tão diferentes", afirmou.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), reconheceu que antes de conhecer pessoalmente Heloísa Helena não nutria simpatia pela senadora. "Eu simplesmente não gostava daquilo tudo que eu lia e também do que eu não lia a seu respeito. Eu chego ao Senado e percebo o primeiro gigantesco erro de uma série de outros erros cometidos pelo governo atual, que foi não ter sabido compor com Vossa Excelência com a coerência de Vossa Excelência, dando-lhe o espaço para uma dissidência que poderia ser momentânea", disse o tucano.
O senador Eduardo Suplicy (PT-S), um dos mais ligados a Heloísa Helena, disse ter certeza que ela voltará ao parlamento nos próximos anos. "De alguma forma a sua palavra, a sua energia, a sua vitalidade estará aqui presente seja no seu lugar, seja aí na tribuna ao lado da bandeira do Brasil", afirmou.

EM TEMPO: Por ironia do destino, a cadeira do Senado, deixada por Heloísa Helena, será ocupada por Fernando Collor de Mello (PRTB-AL), ex-presidente cassado, que disse ter votado em Lula e que hoje é elogiado pelo presidente petista.

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