Os católicos brasileiros estão em festa. E nem poderia ser diferente. Afinal de contas, o representante maior da religião de Roma encontra-se no país. E diga-se, os católicos estão de parabéns pela organização e ordem na recepção ao Papa Bento XVI, que veio ao Brasil para canonizar o Frei Galvão, que se torna assim, pelos rituais da Igreja Católica, no primeiro santo brasileiro.
Desde que o Papa chegou ao Brasil na quarta-feira, 9, os jornais, as rádios e televisões não falam em outra coisa, senão na visita do líder católico. Há uma guerra sem fim no Rio de Janeiro, onde as balas perdidas continuam fazendo vítimas todos os dias. Os sequestros continuam acontecendo, como também as chacinas em São Paulo. Mas, por enquanto, essas notícias que, infelizmente, já se tornaram rotina em nosso país, ficam em segundo plano.
E quem também está aproveitando a visita do Papa Bento XVI para ficar bem longe dos noticiários é o Congresso Nacional. Os jornais falam pouco ou quase nada do que vem acontecendo em Brasília, mesmo diante de uma montanha de notícias - boas e ruins - que poderiam ser primeira página de qualquer jornal.
Na última quarta-feira, 9, a Câmara aprovou um aumento de 28,5% nos salários dos 594 congressistas, do presidente da República, do vice e dos 34 ministros. O reajuste é retroativo a 1º de abril - não é mentira - e todos os parlamentares passarão a receber mais de R$ 16 mil. Não é nenhum aumento astromômico, diante dos 90% que os deputados exigiam no início desta Legislatura.
Mas, como não havia outro fato maior no Brasil no início do ano, a Câmara preferiu empurrar o reajuste com a barriga até que pudesse votar a matéria num momento em que a população estivesse com a atenção voltada para outro fato. E nada melhor do que a visita de um Papa, principalmente, quando este veio para canonizar o primeiro santo brasileiro.
Agora, quando o Papa voltar para Roma, no próximo domingo, os pobres brasileiros voltarão também à sua dura e triste realidade, sem saber muito bem do que se passou em Brasília.
O aumento salarial em si não tem nenhum problema e todos concordamos que os parlamentares têm direito a um salário maior. O problema são as mordomias. Cada parlamentar brasileiro passará a custar aos cofres públicos em torno de R$ 150 mil por mês, pois pagamos também para eles as passagens de avião, verbas indenizatórias, auxilio moradia e outras coisas mais. O salário, que eles recebem 15 vezes por ano, é livre.
Além disso tem o efeito cascata. Todos os deputados estaduais e vereadores terão também o seus salários reajustados e, portanto, essa brincadeirinha do Congresso, durante a visita do Papa, representará um impacto anual aos cofres públicos de no mínimo R$ 610 milhões. Enquanto isso, vamos tentando aplacar a fome do povo com o Bolsa Família, dando-lhe míseros R$ 90 por mês.
Portanto, os fiéis trabalhadores brasileiros, cuja maioria absoluta ganha um salário mínimo ou um pouco mais, terão que continuar rezando e pedindo um milagre do Santo Frei Galvão para ver se um dia eles conseguirão também ter uma vida tão digna como a dos nossoa dignos representantes políticos. Caso contrário, só quando o Brasil vier a ter o seu segundo santo e sabe-se lá quando. O primeiro levou mais de 500 anos.
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