É impressionante como essa tal de governabilidade, termo tão usado em período pós-eleição, propicia fatos inexplicáveis na política brasileira. O caso mais recente desses acordos sem nexo é o convite que o presidente Lula fez ao seu ex-desafeto político, o filósofo Roberto Mangabeira Unger
(foto) que, em novembro de 2005, escreveu um artigo na Folha de São Paulo, pedindo o impeachment do presidente petista. Não foi por outra razão, senão, por essa falta de coerência do PT, que a senadora Heloisa Helena (PSOL) acabou sendo expulsa do Partido dos Trabalhadores por ter criticado a política econômica de Lula.
Dentro de poucos dias, Mangabeira Unger deve assumir mais uma pasta nesse vasto e generoso ministério de Lula. No total, são 36 ministérios, alguns tão inexpressíveis e, consequentemente, tão desnecessários, que a maioria do povo nem conhece o tal ministério e muito menos o nome do ministro. Agora, o ex-crítico de Lula, muda de discurso e diz que se equivocou quando pediu a saída do presidente. Com status de ministro, Mangabeira vai ocupar a Secretaria de Ações Especiais de Longo Prazo. O que será isso e para que servirá?
Conforme escreveu em seu blog, no dia 22/04/07, o jornalista Josias de Souza (
http://www.folha.com.br/), afirma que Mangabeira retirou de sua página na Internet o artigo, onde ele fez as críticas ao Lula e pediu o seu impeachment.
E quem foi que mudou então? O presidente Lula, sob cujo governo surgiram vários escândados políticos, como o mensalão e os sanguessugas, ou Mangabeira Unger? Parece claro que quem mudou foi o filósofo em troca de um cargo.
Veja, a seguir, parte do que disse Mangabeira Unger sobre Lula:
“Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos.
Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. As provas acumuladas de seu envolvimento em crimes de responsabilidade podem ainda não bastar para assegurar sua condenação em juízo. Já são, porém, mais do que suficientes para atender ao critério constitucional do impedimento. Desde o primeiro dia de seu mandato o presidente desrespeitou as instituições republicanas.
Afirmo que a aproximação do fim de seu mandato não é motivo para deixar de declarar o impedimento do presidente, dados a gravidade dos crimes de responsabilidade que ele cometeu e o perigo de que a repetição desses crimes contamine a eleição vindoura. Quem diz que só aos eleitores cabe julgar não compreende as premissas do presidencialismo e não leva a Constituição a sério.
Afirmo que o governo Lula fraudou a vontade dos brasileiros ao radicalizar o projeto que foi eleito para substituir, ameaçando a democracia com o veneno do cinismo. Ao transformar o Brasil no país continental em desenvolvimento que menos cresce, esse projeto impôs mediocridade aos que querem pujança.
Afirmo que o presidente, avesso ao trabalho e ao estudo, desatento aos negócios do Estado, fugidio de tudo o que lhe traga dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria ignorância, mostrou-se inapto para o cargo sagrado que o povo brasileiro lhe confiou ...”
Diante de críticas tão contundentes, como será, portanto, a primeira reunião de Lula com os ministros, tendo à sua frente o professor Mangabeira Unger. "Peroba neles!", diria o folclórico candidato dos aposentados, Osmar Lins.
Mas, é bom destacar que não é somente o Lula que escolhe ex-desafetos para fazerem parte de seu primeiro escalão em nome da governabilidade. Parece que isso é uma prática de governantes petistas que, temendo o resultado das urnas, procuram atrair para o barco petista todos aqueles que antes os criticavam.
Basta lermos o Diário Oficial de algumas prefeituras petistas, como Osasco, por exemplo, para verificarmos que certas pessoas, que até ontem não suportavam o PT e elogiavam seus adversários, hoje ocupam importantes cargos municipais, em detrimento de petistas históricos. O que esses governantes não sabem é que a governabilidade pode ser também uma faca de dois gumes.
1 Comentários:
Pseudo-intelectuais também adoram cargos.
Comenta-se que o economista e professor de Harvard, brasileiro com sotaque de Tio Sam, teria ligações com o poderoso banqueiro-lobbista bilionário Daniel Dantas.
No meu entendimento, a resposta para a pergunta sugerida por você é de que nem Lulla, nem Mangabeira mudaram. São duas faces da mesma moeda que o tempo se encarrega de revelar a essência.
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