A televisão, o teatro e o cinema perderam um grande nome e uma grande referência nesta terça-feira, dia 28. Aos 82 anos, morreu em sua residência, em São Paulo, o diretor e ator Antonio Abujamra. Ainda não foi divulgada a causa da morte . Abu, como era conhecido no meio artístico, nasceu em Ourinhos, interior de São Paulo. Ele fez história no teatro e trabalhou também no cinema e na televisão. Atuou em muitas novelas e, desde 2000, apresentava o programa de entrevistas Provocações, na TV Cultura.
Abujamra teve uma trajetória marcada pela influência de Bertolt Brecht e do discípulo do mestre alemão, Roger Planchon, a quem conheceu pessoalmente. Ele integrou a geração de grandes diretores brasileiros que apareceu e cresceu durante a resistência à ditadura militar, como Antunes Filho, Zé Celso Martinez Corrêa e Flávio Rangel. Dentre outros trabalhos, diirigiu Cacilda Becker, Lilian Lemmertz, Glauce Rocha e Irene Ravache.
O diretor era também filósofo e jornalista, cursos feitos na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, onde começou a carreira nos palcos do Teatro Universitário, na segunda metade da década de 1950. Posteriormente, foi se aperfeiçoar na Europa, passando por Espanha, França e Alemanha, onde esteve no prestigiado Berliner Ensemble, companhia criada por Brecht. A estreia profissional de Antonio Abujamra foi no ano de 1961, em São Paulo, quando dirigiu Raízes, de Arnold Wesker, com Cacilda Becker.
Ainda nos de 1960, Abu notabilizou-se com o Grupo Decisão, também baseado nos ensinamentos brechtianos, com o qual encenou o sucesso O Inoportuno, de Harold Pinter, em 1964, e Electra, de Sófocles, no ano seguinte. Na década de 1980, militou no histórico Teatro Brasileiro de Comédia e, na década seguinte, criou o grupo Os Fodidos Privilegiados, no qual foi substituído, posteriormente, pelo diretor João Fonseca.
Aos 55 anos, retomou a carreira de ator, sendo elogiado pelo monólogo O Contrabaixo (1987), de Patrick Süskind, entre outros trabalhos. Na televisão, Abujamra é lembrado pelo papel do bruxo Ravengar, da novela Que Rei Sou Eu? (1989), da Rede Globo.
Como como apresentador do programa Provocações, na TV Cultura, Abujamra não gostava de estar na posição de entrevistado, tendo erguido em torno de si uma fama de mal-humorado. Mas era um provocador nato e um verdadeiro criador de máximas. Em 2012, em entrevista ao Estado de S. Paulo, declarou: "Para um artista, o fracasso e o sucesso são iguais. Os dois são impostores".Com relação aos que sucederam à sua geração, foi enfático: "A juventude tem de ter mais coragem em relação a nós, porque, se nos respeitarem muito, vou desprezá-los".