Nesta terça-feira, a defesa do Meio Ambiente no Brasil sofreu um duro golpe. Preocupada com os rumos da política ambiental e magoada com a falta de apoio que vinha recebendo, a senadora Marina Silva
(foto) pediu demissão do cargo de ministra do Meio Ambiente, cargo que ocupava desde o início do Governo Lula. O descontentamento da ministra era tão grande que ela nem se preocupou em entregar a carta pessoalmente ao presidente Lula, que soube do fato através da imprensa.
Já fazia algum tempo que a ministra Marina Silva, um dos pilares que o Governo Federal ainda tinha contra o desmatamento incontrolável da Amazônia, por exemplo, vinha batendo de frente contra outros ministérios. O objetivo da ministra era evitar que determinadas obras públicas não colocassem em risco o meio ambiente no Brasil. Mas, a brava defensora da natureza, reconhecida internacionalmente, foi vencida pelos interesses econômicos. O novo ministro do Meio Ambiente deverá ser o ex-governador do Acre, Jorge Viana (PT).
Em seu pedido de demissão, endereçado ao presidente Lula, Marina Silva reclama da resistência que enfrentou no governo e da falta de sustentação política. "Vossa Excelência é testemunha das crescentes resistências encontradas por nossa equipe junto a setores importantes do governo e da sociedade", disse ela.
"Em muitos momentos, só conseguimos avançar devido ao seu acolhimento direto e pessoal. No entanto, as difíceis tarefas que o governo ainda tem pela frente sinalizam que é necessária a reconstrução da sustentação política para agenda ambiental."
Interesses diferentesMarina vinha entrando em conflitos com outros ministérios, como a Casa Civil e a Agricultura, em casos e questões que opõem proteção ambiental a interesses econômicos.
O mal-estar entre Marina Silva e Dilma Rousseff (Casa Civil) começou em julho do ano passado, por conta das negociações em torno do edital para as concessões do leilão das usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira (RO).
Com o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura), o desentendimento girava em torno do plantio de cana. Para Marina, Stephanes incentiva o plantio de cana em áreas degradadas da Amazônia, do Pantanal e da mata atlântica.
Mas, a gota d´água que resultou na saída de Marina Silva, foi a bofetada que levou com a nomeação do ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) para coordenar o PAS (Plano Amazônia Sustentável). Depois de chamar Marina Silva de "mãe do PAS", programa criado e idealizado por ela, o presidente Lula acabou dando a coordenação do projeto para uma pessoa até certo ponto estranha nesse Governo.
Radicado há muitos anos nos Estados Unidos, onde trabalhava como professor, Mangabeira Unger é aquele mesmo que durante o primeiro governo petista, era um dos mais severos críticos do Governo Lula. Ele chegou a dizer que "jamais o Brasil teve um governo tão corrupto quanto o governo do presidete Lula". Porém, de uma hora para outra, após ser convidado para virar ministro, Mangabeira disse que "estava equivocado" quando fez as criticas.
Repercussão negativaA saída da ministra Marina Silva repercutiu muito mal também no exterior. Em sua edição desta quarta-feira, o jornal argentino "Página 12" destaca: "A causa amazônica sofreu um duro revés no Brasil. A ministra do Meio Ambiente e ex-sindicalista da borracha, Marina Silva, renunciou ontem ao cargo inesperadamente depois de ser derrotada em sua luta por preservar a Amazônia, que está sendo devorada pelos grandes produtores de soja".
Para o Greempeace, o pedido de demissão de Marina Silva foi um desastre. A organização afirma que o fato mostra uma mudança de postura do governo em relação à questão ambiental.
"Nossa opinião é que a saída da ministra Marina é a prova cabal e derradeira das reais intenções do governo Lula em relação a essa questão. O meio ambiente, a questão da Amazônia, perdeu seu anjo da guarda, a única voz no governo que ainda defendia a prudência, o juízo, em relação às questões ambientais", afirmou Sérgio Leitão, diretor de políticas públicas do Greenpeace.