Já não se faz carnaval como antigamente. Como o futebol, que já há muitos anos deixou de ser o esporte das multidões e de torcidas civilizadas, para se transformar em trampolim político e, consequentemente, nesse horror que se vê hoje nos estádios, o carnaval está também a cada ano abrindo espaço apenas para manifestações politiqueiras, cujo destino poderá ser o mesmo do futebol, ou seja, a morte do puro sentimento esportivo e cultural do povo. São raras as cidades onde ainda hoje o carnaval representa apenas alegria. Seja nas passarelas, nos clubes, nas ruas ou estradas, o que se vê no reinado de Momo é apenas violência. E o resultado não poderia ser outro, senão o das estatatísticas policiais: brigas, acidentes, milhares de pessoas feridas e centenas de mortes.
Os temas políticos dos sambas-enredo, as ajudas financeiras, inclusive, de países estrangeiros, as brigas políticas e o resultado deste ano, principalmente, em São Paulo e no Rio de Janeiro, servem para exemplificar esse uso político e nocivo do carnaval.
Em São Paulo, por exemplo, a escola Nenê de Vila Matilde, presidida por um tucano, resolveu "homenagear", o ex e saudoso governador Mário Covas, o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin, sendo que os dois últimos são pré-candidatos à presidência da República, cuja briga está espalhando pena no ninho tucano e fazendo com que o presidente Lula seja até agora o único candidado em campanha. Só mesmo o presidente da escola, é que poderia imaginar que essa "homenagem" num eleitoral não significa propaganda eleitoral tanto para Serra como para Alckmin.
Vereadores do PT até que tentaram, sem sucesso, impedir na Justiça que os bonecos dos dois tucanos presidenciáveis desfilassem pela passarela do Anhembi. É bom destacar, no entanto, que os vereadores petistas não teriam tido esse trabalho e nem se interessariam incomodar a Justiça se qualquer outra escola tivesse tido a idéia de também "homenagear", por exemplo, o presidente Lula. E todos viram como foi tumultuada a apuração do carnaval paulista, com a Gaviões da Fiel prometendo que não desfilará mais e os jurados recebendo até ameaças.
Enquanto isso, o carnaval do Rio, considerado o maior do mundo, teve também as suas desavenças. Com um samba-enredo inusitado - homenagem ao "libertador da América espanhola, Simón Bolívar - a escola de Vila Isabel conquistou o título depois de 18 anos na fila, deixando as rivais em pé de guerra. Um fato que ainda não ficou muito claro foi a briga do maior representante da Vila Isabel, o compositor e cantor Martinho da Vila, que se desentendeu com a direção da escola pela primeira vez não defilou pela sua Vila.
Porém, um outro fato envolvendo a Vila Isabel está bem claro. É a ajuda financeira que a escola de samba recebeu do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. A escola recebeu U$ 450 mil, o equivalente a R$ 1 milhão da estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA). Além dessa verba generosa para o samba da Vila Isabel, Hugo Chávez abençoou também cerca de 500 privilegiados venezuelanos, funcionários da PDVSA, que passaram o carnaval no Rio com todas as despesas pagas pelo governo de Chávez. E nem precisaria dizer que os governistas venezuelanos e simpatizantes de Chávez estão vibrando com a vitória da Vila Isabel. Nem tanto pela defesa da latinidade, mas, pelo nome e a propaganda de Hugo Chavez, que parece querer se transformar num novo tipo de Simón Bolívar, desta vez englobando o Brasil. O vice-presidente da Venezuela, José Vicente Rangel, se declarou "feliz " com o título da Vila Isabel. "A retribuição publicitária deste fato, acredito, justifica qualquer gasto", disse Rangel.
Mas, se por um lado, os chavistas estão pulando com a vitória da Vila Isabel, a oposição venezuelana não está a fim de brincadeira e nem de samba. Líderes oposicionistas daquele país, cuja pobreza não é diferente dos demais países da América do Sul, criticaram o financiamento da escola de samba e a alegoria de Bolívar, por considerarem que a representação constitui uma falta de respeito ao herói da independência. Um deputado da oposição anunciou que denunciará ao Supremo Tribunal de Justiça a PDVSA pela doação à escola de samba carioca.
Como a PDVSA, a nossa Petrobrás também patrocinou o carnaval. Entrevistado no camarote da empresa, em Salvador, e sambando muito, um engenheiro e gerente da Petrobrás, gaguejou muito para explicar qual o retorno, para o povo brasileiro, de gasto tão grande com publicidade da empresa no carnaval.
Em tempo: O valor do litro de gasolina no Brasil custa 20 vezes ao preço pago pelos consumidores na Venezuela.
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